Para os que vivenciam a Carnaúba, além de uma referência de meio de vida produtivo e honrado, é também um lugar sagrado, que favorece a reunião de pessoas, emanando uma energia positiva, única, que reconstrói e afaga, como nenhum outro lugar é capaz de fazer.
Como representante da sua geração, andando na contramão, institucionalmente sozinho, Manelito Dantas tornou-a um exemplo de sistema de produção na região e também uma espécie de patrimônio imaterial cultural do Brasil, sendo reconhecida e valorizada, além mar. Esse fato foi consequência do comprometimento que possuía, com total empatia, em dar continuidade ao sonho visionário, sábio, consciente e realista do Pai, Seu Dantas.
Hoje, o trabalho continuado e aprimorado, espera ser mantido nessa condição, e cada vez mais aperfeiçoado, pelas gerações que se sucederem, sem perderem o foco principal, que é o sistema de produção adequado para a região, considerando todos os seus aspectos técnicos, sociais e culturais.
Ao casar com Alice Vilar Pequeno, herdou uma parte das terras da Carnaúba, e nelas foi trabalhar, plantando roçados de algodão, considerado o “ouro branco” da época. Empenhado em aumentar sua produtividade, com os esforços e rendimentos de seu trabalho nas terras da Carnaúba herdadas por sua esposa, incorporou partes que se avizinhavam. Fez sociedade com um irmão, em uma estrutura de beneficiamento de algodão, dentro da Carnaúba. A produção era vendida para grandes indústrias em cidades maiores, como a SAMBRA em Campina Grande. Continuou suas plantações e o beneficiamento de algodão, até sentir que o mercado já não estava mais tão bom. Por esse motivo, parou o beneficiamento do algodão em 1937, mas continuou os roçados, que eram os maiores da região.
Naquela época, ingressando na Pecuária, instintivamente enxergou no Gado Zebu, as características ideais para ser criado nas condições da região da Carnaúba. Pesquisando em revistas de pecuária, encontrou anúncios de gado da raça Guzerá para vender, no Rio de Janeiro. Em 1934 fez a primeira viagem para buscar animais, indo de caminhão até Recife, e a partir de lá, de navio. Dessa forma, Seu Dantas introduziu zebu no Nordeste. Por aqui, além de ter sido pioneiro na criação de Zebus, nas plantações de roçados e beneficiamento do algodão, dentre outras coisas, também iniciou o uso de cercas de arame farpado, de energia elétrica, de cata-ventos e de saneamento. Neste contexto, priorizou a criação de gado zebu, deixando o algodão em segundo plano. Assim, sustentou e formou (em boas escolas e universidades) seus sete filhos e ajudou parentes e muita gente da região.
Seguindo o caminho já trilhado, Manelito teve a preocupação prática, técnica e oficial, de não desmanchar o trabalho pioneiro e promissor que já tinha sido realizado até então.
Viabilizou incrementos que o passar do tempo elucidava:
· Abandonou as lotéricas lavouras temporárias da agronomia oficial, que conflitam com a distribuição das chuvas daqui e pioneiramente foi buscar na Ásia x Norte da África elementos biológicos (plantas e animais) de seus pré-desertos, compatíveis com a desarrumação da pouca água natural existente.
· Introduziu o gado bovino das raças Sindi e Curraleiro Pé-duro, ovelhas deslanadas de carne enxuta e pele superior, do NE, bem como, em sociedade com seu primo/irmão Ariano Suassuna, as desprezadas e altivas cabras também nativas, de leite rico e prolificidade acentuada.
· Passou a impulsionar a produção queijos diferenciados, seja pela raça das cabras, pelas ervas próprias da terra, igualmente nativas, usadas como condimentos e essências vegetais, e pela maturação que o clima propiciava.
· Entre outras tecnologias, introduziu na região o cultivo dos Capins Buffel australianos (perenes) e a prática bíblica da Fenação. Valorizou a manutenção e até o cultivo, das plantas nativas, incorporadas aos campos desses capins perenes. Também desenvolveu o uso regional do bagaço de cana hidrolisado por via química, para suprimento de forragem para os animais em tempo prolongado de seca.
Essa iniciativa, penosamente construída por falta de bibliografia e informação apropriada, à custa de tentar, errando e acertando, está na base da valorização que a caprinocultura brasileira adquiriu (o NE seco abriga 96% do rebanho nacional).
“A gratificação por ter feito, servindo aos produtores do semiárido real, fica na conta e satisfação que carrego.” (Manelito Dantas).
Então, a partir da agregação das terras e da pioneira introdução do Zebu no Nordeste, feita por Seu Dantas, a “Fazenda Carnaúba”, sob a batuta de Manelito Dantas, e atualmente de seus descendentes, ocupa o patamar de “modelo de sistema de produção para o Semiárido Nordestino”, através da criação e incorporação de tecnologias funcionalmente corretas, com resultados técnicos, sociais e culturais destacados. Nessa caminhada, andando na contramão do oficial, reconhecidamente pioneira na criação do sistema de produção viável para a região, conseguiu firmar conceitos e teorias verdadeiramente estruturantes, ricos, significativos e importantes.
Muita coisa ainda precisa ser feita a nível institucional e oficial.