Guzerá

O Guzerá, entre os animais do mundo, é um desses elementos integrais, que além de leite e carne no prato da casa, em alguma tarde mansa da fazenda, enche a vista e o espírito da gente com essas transcendências, gerando uma emoção que vai bater na percepção da grandeza das coisas do mundo de Deus.

Esse gado, como se sabe, filho da genética primordial dos pré-desertos da Índia, chegou aqui pela indicativa de criadores intuitivos, na busca pioneira de ruminantes tropicais, quando os gados coloniais – degenerando para se adaptar ao chão e ao sol do Brasil – comprimiram a produtividade e as produções que vinham de outro hemisfério. Dos Barões do Império, foi à mão e ao cuidado de João de Abreu Júnior, no Rio de Janeiro, preferido por ele objetivamente a partir do seu balcão de carnes em Niterói e da observação posterior de que, também davam bom leite, que selecionou Guzerás para “raça” e “leite/gordura”, em 1° lugar, talvez, no mundo.

Em 1934, com seu “instinto zootécnico”, meu pai foi encontrar esse imigrante notável, em sua fazenda Itaóca, em Cantagalo, de onde botou num navio até o Recife, seguindo a pé pra Carnaúba, RAJÁ-JA, MALIQUE-JA, RIBEIRÃO-JA e três fêmeas.

Sindi

O gado Sindi, filho milenar do gado vermelho do Afeganistão, na descida sul de sua expansão convertido em Gado Nacional do Paquistão, é bem o caso de não se confundir o conceito de volume aparente com o de peso específico e eficiência produtiva. Seu menor porte, talvez, tenha o que ver com sua fantástica precocidade e seu rúmen, forjado nos pré-desertos da Ásia, converte melhor o material fibroso do mundo tropical cheio de sol, em leite rico e carcaça de ossos finos, bem coberta de carne enxuta. Daí ter sido muito usado nos hemisférios nevados para retemperar os Bos Taurus, comedores que são, como o monogástrico Homem, de proteínas pré-formadas e grãos de cereais. Também atraiu o zootecnista brasileiro Felisberto Camargo pensando em leite e carne para a Amazônia de calor e umidade rigorosos.

Quando a produtividade for avaliada, não pela produção individual de cada vaca ou peso absoluto de cada boi, e sim pela produção no tempo, de cada hectare de terra ocupado com a criação, sob a ótica racional da dupla função – o caminho do Brasil molhado ou seco – a eclética raça Sindi será estrelada na Constelação pecuária de nosso País. O Brasil, pioneiro mundial na seleção funcional de zebuínos, tornou-se, por causa deles, um dos poucos países do mundo que criam um bovino por habitante, podendo, como ninguém, oferecer a seu povo proteínas nobres a baixo custo.

“Minha escolha pelo Sindi decorre da minha ligação com as terras secas do Nordeste e da crença radical de que é preciso respeitar a harmonia entre os animais e as latitudes” (Manelito Dantas)

Nosso rebanho Sindi foi introduzido em 1985, oriundo da linhagem de Felisberto Camargo e das Fazendas do Sr José Cezário Castilho. Hoje já é metade do gado total que criamos.

Curraleiro Pé-Duro

A raça Curraleiro Pé-duro é descendente dos bovinos trazidos pelos portugueses no período colonial. Aqui submetidos a uma seleção natural rigorosa, foram, aos poucos, adaptando-se a condições de pastagens de baixa qualidade, de seca e de calor, além de ataques de parasitas e de doenças, resultando, depois de séculos, em animais de extraordinária rusticidade, e adaptados a essas severas condições.

Sabendo existirem poucos e raros rebanhos, já fadados a se acabarem, em 1994 fomos buscar no Piauí, na tentativa de resgatar, preservar e recuperar as funções produtivas que possivelmente teriam sido perdidas ao longo do tempo, por falta de manejo zootécnico apropriado e direcionado.

Em 14/12/ 2012, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, por meio da Portaria nº 1.150/2012 reconheceu oficialmente esses bovinos como raça.

A raça Curraleiro Pé-Duro é dócil, sua carne é saborosa, o couro macio e resistente e o leite excelente. Segundo alguns criadores e técnicos, é também muito menos suscetível a plantas tóxicas.