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Ariano e a Carnaúba

Confesso a minha inquietude, aflição mesmo, acompanhando as notícias sobre o estado de saúde de Ariano Suassuna, internado num hospital em Recife, vítima de um acidente vascular cerebral. É grave o quadro. O grande escritor está com 87 anos. Fim de semana que passou andei por seus pagos, indo à Fazenda Carnaúba, município de Taperoá, na Paraíba, onde Ariano despertou para as artes: dramaturgo, romancista, poeta, ensaísta, artista plástico. Passei pelo terreiro de sua casa, menos de 100 metros dos alpendres do primo Manoel Dantas, Manelito, o anfitrião. Carnaúba realizava um grande festa por conta do seu “2º Leilão” onde se negociou bovinos das raças Guzerá, Sindi e Gado Pé Duro (sotaque de português, andar de piauiense), nove raças nativas de caprinos e sete de ovinos.

Só o empório (de acordo com o falar de Manelito) dessas cabras e bodes, ovelhas e carneiros, já é uma festa maior, nada igual por este Nordeste afora. Fantástico o trabalho de melhoramento genético dessas raças feito em Carnaúba. E é preciso dizer que tudo isso começou numa parceria de Manelito com Ariano, vaquejando cabras e ovelhas brasileiras pelos sertões nordestinos. O cenário da Fazenda Carnaúba, seus currais de pedra, suas baias, seus galpões, seus cercados que vão até ao pé das serras circundantes, aqui e acolá, as emas cruzando com as ovelhas Morada Nova e das Cabras Azuis, já acarinha e comove o visitante. Paisagem que lembra um castelo ibérico erguido em terras pedregosas da Galícia.

Lá estavam criadores e técnicos (agrônomos, zootecnistas, veterinários) de várias partes do Brasil. Muitos sotaques, prosas deliciosas, encontros e reencontros de velhos companheiros. Fazia frio em Taperoá e caia uma chuvinha fininha, peneirando. Tempo para uma, tantas doses de cachacinha ou três dedos de uísque. Fazia frio, mas os negócios foram quentes. Preços bons para o gado Sindi, um pouco menos para o Guzerá, ótimos para as cabras e ovelhas. O resultado deve ter sido do agrado de Manelito e de seus meninos.

O Dia D da Fazenda não foi somente de venda de bois, vacas, cabras e ovelhas. Num de seus galpões (pé direito de três metros) montou-se uma exposição de arte com a pintura de Manoel Suassuna Dantas, a tapeceira de Ariano e Zélia Suassuna, o artesanato de couro dos artesãos de Cabaceiras e seus arredores, a feirinha dos famosos queijos e cremes (leite de cabra) da Carnaúba e as geleias, doces e compotas (mangaba, umbu-cajá, araçá, manga, pitanga, goiaba, jaca, caju com pimenta rosa, maracujá, ubaia e eteceteras) fabricadas pela Sobores da Vivenda, tempero potiguar da Fazenda Vivenda do Vale, que fica em Ceará Mirim, e que pertence ao casal Fernanda e Gustavo Câmara, agrônomos. Seus produtos fizeram o maior sucesso. Completando os espaços do grande galpão a cozinha montada por Adriana Lucena, peagadê em culinária e pimentas. Filas para seus sanduíches e os pratinhos feitos com carnes de cabrito, cordeiro e de porquinhos meide Piauí criados na Carnaúba, acompanhados de arroz da terra, batata doce, purê de jerimum caboco e farofinha.

Foi no galpão que conversei com o pintor Manoel Suassuna Dantas sobre o seu pai. Ariano retomara suas aulas-espetáculo, estava concluindo o novo romance e fora convidado para a Flipipa de agosto. Me presentou com o catálogo da exposição com a qual inaugurou em agosto de 2011 a sua Oficina Cabeça de Cabro, em Taperoá. No catálogo tem um texto manuscrito assinado por Ariano e Zélia. Manoel Dantas divide o tempo de artista entre Recife e Taperoá. Ultimamente executa o projeto “Pelo Caminho Sagrado”, seguindo as trilhas de Antônio Conselheiro, de Quixeramobim, no Ceará, a Belo Monte/Canudos, na Bahia. No documentário, Manoel Suassuna Dantas se veste de Antônio Conselheiro.

Falou ainda de outro projeto. Documentar os caminhos percorridos por Ariano por vários lugares do Nordeste, alguns também trilhados pelo avô João Suassuna. No Rio Grande do Norte lembrava de três lugares: Natal, Mossoró, Lajes e Martins.

Sempre é um encanto uma ida a Carnaúba.

Fonte: Tribuna do Norte (Link)

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